terça-feira, 27 de julho de 2010

Prejudicada, Globo sobe o tom das críticas à Ferrari


Detentora dos direitos de transmissão da Fórmula 1 no Brasil, a Globo ficou furiosa com a decisão da Ferrari, que mandou Felipe Massa ceder a liderança do GP da Alemanha para Fernando Alonso, no último domingo. Como poucas vezes se viu, os noticiários da emissora deixaram de lado o tom informativo pelo opinativo na avaliação do incidente. As críticas da Globo, em sua maioria, dirigem-se à escuderia italiana e tratam o piloto brasileiro como vítima.
Na segunda-feira de manhã, ainda com certo cuidado, o jornalista Alex Escobar, no “Bom Dia Brasil”, classificou a manobra como “polêmica”, e observou: “Foi triste, uma reprise que a gente não queria ver”, lembrando episódio semelhante, quando a Ferrari mandou Barrichello deixar Schumacher ultrapassá-lo, em 2001, e o piloto brasileiro, tal como Massa, obedeceu.
Já à noite, no “Jornal Nacional”, Reginaldo Leme subiu o tom. Disse que Massa foi “peça de trapaça”, falou do “prejuízo à imagem da marca (Ferrari) em todo o mundo” e lamentou: “Todos os torcedores que acompanham a Fórmula 1 são vítimas de uma equipe que não sabe preservar o que fez dela um grande ícone do esporte”.
Por fim, ainda no principal noticiário da emissora, o experiente jornalista cobrou: “Se quiser recuperar a credibilidade, a FIA (Federação Internacional de Automobilismo) deverá excluir a Ferrari e os dois pilotos do resultado na Alemanha”. Repare que Leme falou “deverá” e não “deveria”…
No “Jornal da Globo”, no final da noite, William Waack falou do “cinismo” das mensagens da Ferrari a Massa, transmitidas pelo sistema de áudio durante a corrida, em especial o agradecimento final ao piloto por ter sido “magnânimo”. Waack convocou novamente Reginaldo Leme e o narrador da prova, Luis Roberto, que também criticaram a escuderia italiana.
Já na manhã desta terça-feira, o “Bom dia Brasil” voltou a dar destaque ao episódio. Alex Escobar relatou que Luca di Montezemolo, presidente da Ferrari, classificou como “hipocrisia” as reclamações. Segundo o executivo, é sabido que os interesses da equipe se sobrepõem aos dos pilotos. Ao que Escobar pontuou: “Montezemolo prefere esquecer que o regulamento proíbe este tipo de ordem da equipe”. Em seguida, a apresentadora Renata Vasconcellos também opinou: “E tanto o Montezemolo quanto o Schumacher são parte interessadas”.
Em seu blog, o principal comentarista esportivo do jornal “O Globo”, Renato Mauricio Prado, foi igualmente enfático: “A Ferrari confirmou, uma vez mais, sua fama de escuderia picareta, capaz de qualquer armação para vencer e privilegiar seus eleitos. Ou Felipe Massa chuta o balde e troca de equipe, ou estará virando, irremediavelmente, um novo Rubinho – o que seria absolutamente lamentável.”
Para além da justa indignação, cabe lembrar que o fracasso dos pilotos brasileiros na Fórmula 1 afeta o interesse do público pelas corridas, o que prejudica diretamente a emissora, detentora há décadas dos direitos exclusivos de transmissão do campeonato para o Brasil.
Mauricio Stycer
UOL

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